Mayra Andrade Biografía Biografía
Em 2006, esta nova voz surgiu do arquipélago de Cabo Verde, em pleno Oceano Atlântico, com o seu álbum de estreia intitulado “Navega”, um conjunto de temas que se apoiam tanto na música tradicional da sua terra natal, como se vão alimentar a vários estilos musicais e tons diferentes. Actualmente, após três anos de inúmeros concertos, Mayra Andrade libertou-se claramente das suas amarras e deixou-se levar pelos ventos de mudança que sempre guiaram o seu percurso. A sua infância foi marcada pelas grandes vozes de Cabo Verde, no entanto, a sua música inspira-se em todas as fontes possíveis e imaginárias, "desde free jazz à música brasileira", como a própria cantora descreve.
Mayra Andrade nasceu em Cuba em 1985, passou os seus primeiros anos de vida em Cabo Verde e desde os anos 90 tem vivido em vários países entre os quais Senegal, Angola e Alemanha. Em 2001, ainda uma adolescente, a cantora venceu a medalha de ouro nos “Jogos da Francofonia”, realizados em Otava, Canadá. “Falo francês desde os seis anos de idade. É a minha terceira língua.” Mayra Andrade acabou por ir viver para Paris, atraída pela mistura cosmopolita de várias culturas existente na capital francesa. A cidade acabou por revelar-se o local ideal onde a cantora viria a encontrar o seu caminho, tanto a nível pessoal como a nível musical.
“Mais do que uma cantora de Cabo Verde sou, acima de tudo, uma cantora. A música sempre fez parte de mim. Se me apetecer misturar músicas cabo-verdianas com outros sons e influências, acredito que posso fazê-lo.” Mayra Andrade é uma artista autodidacta, que compõe os seus temas à guitarra, livre de juízos de valor e preconceitos que podem advir das fórmulas académicas e harmonias "lógicas". Tal como o cantor e guitarrista Tcheka, Mayra Andrade procura criar a sua própria sonoridade, incluindo sempre e de forma abrangente a diversidade de estilos musicais das ilhas de Cabo Verde. Os dois artistas, em conjunto com outros nomes, foram denominados como pertencentes da “Geração Pantera”, uma denominação que surgiu após a morte de um jovem compositor em 2001 e que teve um profundo impacto na música cabo-verdiana. Mayra Andrade fez quatro versões deste cantor no álbum “Navega”.
A cantora começou a trabalhar neste disco no Outono de 2008, após um longo período de concertos. Mayra Andrade é uma mulher determinada que quer ter a liberdade de seguir o seu próprio caminho. “Cantar é algo quase sagrado para mim!”, afirma a cantora. Tal provavelmente explica o facto de, na qualidade de jovem artista, ter dedicado o tempo necessário para aperfeiçoar as suas actuações em palco, local onde o seu coração e alma brilham. Foi em palco que o público descobriu a cantora e os "especialistas na matéria" conseguiram descobrir o seu talento extraordinário. É também em palco que a cantora planeia dar vida ao seu segundo álbum.
“Navega” definiu a sua personalidade artística. «Stória, stória...» aperfeiçoa a mensagem transmitida. Para cumprir essa tarefa, a cantora definiu as ideias fundamentais em Paris com o multi-instrumentista cabo-verdiano Kim Alves, o baixista dos Camarões Etienne M’Bappé e o percussionista brasileiro Zé Luis Nascimento, três fiéis companheiros que conhecem suficientemente bem a cantora e conseguem antever as suas intenções e instintos. Tal como Mayra Andrade, os músicos integram a música cabo-verdiana e toda a sua diversidade estilística. “Eles conhecem todas as idiossincrasias da música, o que facilita a tarefa de superar as mesmas. Eu preciso da força das sugestões dos meus músicos.” Mayra Andrade decidiu então alargar e aprofundar o projecto, estendendo o convite de participação a artistas com os mais variados passados musicais. Cada um deles enriquece o seu panorama e também a sua música. Em Paris, a cantora recrutou o tocador de kora guineense Djêli Moussa Diawara, o trompete de sonho de Nicolas Genest, o ritmo ágil do angolano Zézé N’Gambi e a poderosa percussão do brasileiro Marcos Suzano. Estes são apenas alguns nomes de uma longa lista de participações especiais. Mais alguns nomes juntaram-se à cantora no Brasil: os percussionistas em Salvador da Baía, o brilhante pianista André Mehmari em São Paulo e outros percussionistas no lendário estúdio de samba localizado em Copacabana, “Companhia dos técnicos”. Em Cuba, o pianista Roberto Fonseca e o tocador de “tres” Pancho Amat juntaram-se aos trabalhos. “A selecção dos músicos aconteceu de forma completamente natural. Convidei-os porque sabia que iriam acrescentar algo à minha música.” Cada um deles tocou de forma impecável, tal como aconteceu com Jacques Morelenbaum e Lincoln Olivetti, que respectivamente foram responsáveis pelos arranjos e gravação das secções de cordas e instrumentos de sopro. Ambos trabalharam com uma sensibilidade subtil, criando uma paleta de harmonias com nuances, que apresenta a sua voz de forma ideal.
“Quis que o ritmo e a percussão desempenhassem um papel importante neste álbum. Que tivessem uma sonoridade natural mas mais directa, permanecendo simultaneamente bastante sofisticados. A nossa preocupação central era a parte técnica: e não queríamos que simplesmente esmagasse ou abafasse o lado da emoção.” Tendo acompanhado o projecto do início ao fim, Mayra Andrade uniu esforços com o homem ideal para o trabalho: o produtor Alê Siqueira, que ficou conhecido por ter trabalhado com, em vez de transformar a sonoridade de algumas das mais recentes pérolas musicais da pop brasileira como Marisa Monte, Caetano Veloso, Tom Zé e Arnaldo Antunes. “Soube imediatamente que ele era a pessoa certa e não me enganei. Alê é um mestre, um camaleão que se consegue adaptar e um confidente que soube escutar os meus sonhos e embelezá-los, sendo também um parceiro que assumiu a tarefa de produzir o disco. Nunca participou demasiado ou de forma insuficiente.” Nem mais, nem menos. Siqueira retorquiu: “Mayra possui um timbre clássico, é intemporal e universal.”
Então, como classificaria a sua música? World music? Uma mistura musical? Ritmo tropical? A cantora responde com risos: “Um cruzamento musical, um estilo ‘ilegítimo’… Em Cabo Verde, as pessoas são naturalmente mestiças”, diz. “Se olharmos bem para a música cabo-verdiana, vemos uma forte ligação com a música brasileira.” Este projecto demonstra o expoente máximo desta união transatlântica. “Mas não acho que este álbum é mais brasileiro do que o primeiro,” acrescenta Mayra Andrade, que primeiro “devorou” Caetano Veloso e depois passou a infância a ouvir as divas Elis Regina e Maria Bethânia. Não, este reportório tem raízes firmes em Cabo Verde, iniciando com um maravilhoso funaná chamado “Stória, Stória…” e terminando com “Lembransa”, uma morna que engana e quase parece um danzón cubano. A sua descrição da rica atmosfera musical em Cabo Verde enfatiza este aspecto: umas dez ilhas para mais de cinquenta estilos diferentes! “A música tradicional é muito específica. Reconheço-a depois do primeiro compasso. Comove-me e dá-me substância.” A música cabo-verdiana está presente do princípio até ao fim, por exemplo, quando recupera a bandeira, um ritmo típico da ilha do Fogo. Entram os ritmos africanos, uma valsa expressionista desorienta os nossos preconceitos e toca os nossos corações. Nesta miríade de influências, o Brasil pode assumir o papel principal, mas Cuba assume também um papel relevante, como é demonstrado pela participação do cantor Kelvis Ochoa e do tresero Pancho Amat no projecto. “Estou muito orgulhosa pelo facto de o meu álbum incluir alguns sons do país que me viu nascer.” A música cubana é algo especial para Mayra, uma “imensidão de emoções”, como diz. Esta fragrância agridoce mistura-se perfeitamente com o toque de melancolia da sua voz. Em “Turbulensa”, escrita pelo jovem compositor cabo-verdiano Nitu Lima, Mayra Andrade compara as mudanças das marés à experiência de vida. Para pontuar a metáfora, usa a marcha, um ritmo do Carnaval que se pode encontrar quer em Santiago de Cuba quer no Brasil.
Entre as linhas de “Stória, stória…”, Mayra Andrade conta muitas histórias, sobre a vida do dia-a-dia, sobre a vida em geral e sobre o amor. “Algumas das músicas têm algo de introspectivo.” Umas a seguir às outras, criam um cenário de imagens coloridas. “Juana” é um comentário social e político, escrito no princípio dos anos 90 pelo cabo-verdiano Kaka Barboza, no qual a cantora fala sobre as condições precárias das mulheres cabo-verdianas, a queda do muro de Berlim e o futuros incerto das pessoas comuns num só fôlego. “Konsiensa”, uma faixa mais introspectiva com um ritmo batuku, mostra a cantora tal qual como é: “peço á sua consciência para não ficar indiferente diante de tudo o que se passa à minha volta no Mundo”, acompanhada por um coro de crianças brasileiras, canta os louvores de uma sociedade multicultural na qual todas as cores se unem. "Seu", uma ode à música interior, é uma melodia maravilhosa que habita a sua mente há três anos. “Um dia peguei na minha guitarra e escrevi-a em três horas.” Mayra lembra-se das palavras sábias do mentor Paulinho Vieira, que lhe disse uma vez: “Quando uma música está destinada a ser tua, vem ter contigo e não se vai embora.” “Mon Carrousel” apresentou o desafio duplo de escrever em conjunto com Fabien Pisani em francês e fazer coincidir o ritmo de uma mazurka cabo-verdiana composta em parceria com a acordeonista portuguesa Celina da Piedade. O resultado é uma “roda gigante” algo peculiar: "que reflecte o movimento duplo da vida: é circular mas também tem altos e baixos." A imagem é belíssima e representa na perfeição o resto deste álbum.
Fuente: mayra-andrade.com